quarta-feira, 26 de junho de 2013

Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens

Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens

A visão permanente e geral dos Espíritos é muito rara, mas as aparições
individuais são bastante frequentes, sobretudo no momento da morte; é como se o
Espírito recém-desprendido se apressasse em tornar a ver seus parentes e amigos,
como que para os avisar de que acaba de deixar a Terra e dizer-lhes que continua a
viver. Aquele que recolher suas lembranças verá quantos fatos autênticos deste gênero,
dos quais não se dava conta, ocorrem consigo não só à noite durante o sono, mas em
pleno dia, no mais completo estado de vigília. Outrora esses fatos eram encarados
como sobrenaturais e maravilhosos e eram atribuídos à magia e à feitiçaria; hoje, os
incrédulos os lançam à conta da imaginação. Mas, desde que a ciência espírita lhes deu
a explicação, sabe-se como se produzem e que não escapam da ordem dos fenômenos
naturais.
Ainda há os que acreditam que os Espíritos, pelo simples fato de serem Espíritos,
devem possuir a soberana ciência e a suprema sabedoria. É um erro que a experiência
não tardou em demonstrar. Entre as comunicações dadas pelos Espíritos, algumas são
sublimes pela profundeza, pela eloquência, pela sabedoria, pela moral e que só exalam
bondade e benevolência; mas, ao lado dessas, outras há muito vulgares, levianas,
triviais, mesmo grosseiras, pelas quais o Espírito revela os mais perversos instintos. É,pois, evidente que não podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos,
também há os maus. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, naturalmente
não podem tornar-se perfeitos tão só porque deixaram seus corpos. Enquanto não
hajam progredido, conservam as imperfeições da vida corporal, razão por que se nos
apresentam em todos os graus de bondade e de maldade, de saber e de ignorância.
Geralmente os Espíritos sentem prazer em se comunicarem conosco. Para eles é
uma satisfação constatarem que não foram esquecidos; descrevem de bom grado suas
impressões ao deixarem a Terra, sua nova situação, a natureza de suas alegrias e
sofrimentos no mundo em que se encontram: uns são muito felizes, outros
desgraçados, alguns sofrem mesmo tormentos horríveis, segundo a maneira como
viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram da vida. Observando-os
em todas as fases de sua nova existência, conforme a posição que ocuparam na Terra, o
gênero de morte, seus caracteres e hábitos como homens, chega-se a um conhecimento,
se não completo, pelo menos muito preciso do mundo invisível, para nos darmos conta
do nosso estado futuro e pressentirmos a sorte feliz ou desgraçada que nos espera.
As instruções dadas pelos Espíritos de ordem elevada sobre todos os assuntos
que interessam à Humanidade, as respostas que deram às questões que lhes foram
propostas, recolhidas e coordenadas cuidadosamente, constituem toda uma ciência,
toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo. O Espiritismo é, pois, a
doutrina fundada na existência, nas manifestações e nos ensinos dos Espíritos. Essa doutrina
se acha exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos, quanto à parte filosófica, e
em O Livro dos Médiuns, quanto à parte prática e experimental. Pela análise que a seguir
faremos dessas obras, pode-se julgar a variedade, a extensão e a importância das
matérias que elas encerram.