Não sendo os Espíritos senão as almas
dos homens
A visão permanente e geral dos Espíritos é muito rara, mas
as aparições
individuais são bastante frequentes, sobretudo no momento da
morte; é como se o
Espírito recém-desprendido se apressasse em tornar a ver
seus parentes e amigos,
como que para os avisar de que acaba de deixar a Terra e
dizer-lhes que continua a
viver. Aquele que recolher suas lembranças verá quantos
fatos autênticos deste gênero,
dos quais não se dava conta, ocorrem consigo não só à noite
durante o sono, mas em
pleno dia, no mais completo estado de vigília. Outrora esses
fatos eram encarados
como sobrenaturais e maravilhosos e eram atribuídos à magia
e à feitiçaria; hoje, os
incrédulos os lançam à conta da imaginação. Mas, desde que a
ciência espírita lhes deu
a explicação, sabe-se como se produzem e que não escapam da
ordem dos fenômenos
naturais.
Ainda há os que acreditam que os Espíritos, pelo simples
fato de serem Espíritos,
devem possuir a soberana ciência e a suprema sabedoria. É um
erro que a experiência
não tardou em demonstrar. Entre as comunicações dadas pelos
Espíritos, algumas são
sublimes pela profundeza, pela eloquência, pela sabedoria,
pela moral e que só exalam
bondade e benevolência; mas, ao lado dessas, outras há muito
vulgares, levianas,
triviais, mesmo grosseiras, pelas quais o Espírito revela os
mais perversos instintos. É,pois, evidente que não podem emanar da mesma fonte
e que, se há bons Espíritos,
também há os maus. Não sendo os Espíritos senão as almas dos
homens, naturalmente
não podem tornar-se perfeitos tão só porque deixaram seus
corpos. Enquanto não
hajam progredido, conservam as imperfeições da vida
corporal, razão por que se nos
apresentam em todos os graus de bondade e de maldade, de
saber e de ignorância.
Geralmente os Espíritos sentem prazer em se comunicarem
conosco. Para eles é
uma satisfação constatarem que não foram esquecidos;
descrevem de bom grado suas
impressões ao deixarem a Terra, sua nova situação, a
natureza de suas alegrias e
sofrimentos no mundo em que se encontram: uns são muito
felizes, outros
desgraçados, alguns sofrem mesmo tormentos horríveis,
segundo a maneira como
viveram e o emprego bom ou mau, útil ou inútil que fizeram
da vida. Observando-os
em todas as fases de sua nova existência, conforme a posição
que ocuparam na Terra, o
gênero de morte, seus caracteres e hábitos como homens,
chega-se a um conhecimento,
se não completo, pelo menos muito preciso do mundo
invisível, para nos darmos conta
do nosso estado futuro e pressentirmos a sorte feliz ou
desgraçada que nos espera.
As instruções dadas pelos Espíritos de ordem elevada sobre
todos os assuntos
que interessam à Humanidade, as respostas que deram às
questões que lhes foram
propostas, recolhidas e coordenadas cuidadosamente,
constituem toda uma ciência,
toda uma doutrina moral e filosófica, sob o nome de
Espiritismo. O Espiritismo é, pois, a
doutrina fundada na existência, nas manifestações e nos
ensinos dos Espíritos. Essa doutrina
se acha exposta de modo completo em O Livro dos Espíritos,
quanto à parte filosófica, e
em O Livro dos Médiuns, quanto à parte prática e
experimental. Pela análise que a seguir
faremos dessas obras, pode-se julgar a variedade, a extensão
e a importância das
matérias que elas encerram.