Mas,
quem toma a liberdade de interpretar as Escrituras Sagradas?
Se o Cristo não pôde desenvolver o seu
ensino de maneira
completa, é que faltavam aos homens
conhecimentos que eles só podiam
adquirir com o tempo e sem os quais
não o compreenderiam; há muitas coisas
que teriam parecido absurdas no estado
dos conhecimentos de então.
Completar o seu ensino deve
entender-se no sentido de explicar e desenvolver,
não no de ajuntar-lhe verdades novas,
porque tudo nele se encontra em estado
de gérmen, faltando-lhe só a chave
para se apreender o sentido das palavras.
Mas, quem toma a liberdade de interpretar as
Escrituras Sagradas?
Quem tem esse direito? Quem possui as
necessárias luzes, senão os teólogos?
Quem o ousa? Primeiro, a Ciência, que
a ninguém pede permissão para dar a
conhecer as leis da Natureza e que
salta sobre os erros e os preconceitos.
Quem tem esse direito? Neste século de
emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito de exame
pertence a todos e as Escrituras não são mais a arca santa na qual ninguém se
atreveria a tocar com a ponta do dedo, sem correr o risco de ser fulminado.
Quanto às luzes especiais, necessárias, sem contestar as dos teólogos, por mais
esclarecidos que fossem os da Idade Média, e, em particular, os Pais da Igreja,
eles, contudo, não o eram bastante para não condenarem como heresia o movimento
da Terra e a crença nos antípodas. Mesmo sem ir tão longe, os teólogos dos
nossos dias não lançaram anátema à teoria dos períodos de formação da Terra
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